quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

GUARATUBA BAY- Eric e o Reveillon na Ilha de Paquetá - partes I e II


Final de tarde , chuva, céu cinzento, temperatura amena...

Clima bem típico de Curitiba num mês de dezembro.

Ótimo para escrever, ler ou curtir suas músicas.

Optou por estas últimas.

Conectou o plug do cabo das conchas ergonométricas Sony, no equipamento de som e também às  suas orelhas, deitando-se no sofá da sala de seu loft , se preparando para usar o contrôle remoto, e selecionar algumas  MP3 baixadas pela internet...no HD do seu notebook Positivo.

No aparador ao lado do sofá, potinhos de cerâmica repletos de castanhas de caju, amendoim torrado, azeitonas e cubos de queijo parmezão préviamente preparados com a faca japoneza de fatiar sashimi...cobertos por orégano e azeite de oliva.

-Se o Suzuki souber que usei essa lâmina com que me presentou para preparar sushi e sashimi, e que a usei para fatiar em cubos o queijo de Parma, requisita a devolução na hora e me dá umas boas xingadas! Pensou divertido

No balde de prata, a garrafa de Dom Perignon, safra 68 entre cubos de gêlo, e a taça de cristal à espera do espumante e borbulhante néctar cor de prata suavemente amarelada.

 Nada o distraíria desse prazer...e até já sabia antecipadamente que acabaria passando a noite no sofá, desfrutando daqueles sonhos dourados e agradáveis que o acompanhavam a muito tempo.

Mal selecionou algumas faixas e músicas de sax, interpretadas por Stan Getz, Don Byas e Gato Barbiere, comandou o reostato da iluminação à uma penumbra e...

Merda!

O display de seu celular , ao lado do balde de gêlo, na côr verde ET marciano, se iluminou...

-Ainda bem que foi antes de me entregar  ao  devaneio! Pensou

-Eu...

-Eric?

-Claro, ou outra pessoa possui esse mesmo número?

-Eiii...sou eu rapaz, o Junqueira...

-Desculpe, nem olhei a origem da ligação, e aí? Tudo bem Junqueira?

-Comigo tudo, mas me parece que com você nem tanto, pela maneira que atendeu...ah ah ah

-Nem vem velho decrépito, como andam as coisas aí no Rio?

-Muito bem como sempre, mas só liguei prá te dar uma notícia...

-Que venha!

-Ainda está insistindo nesse teu livro fadado ao fracasso?

-Um dia termino ele, amigo...

-Caracas, já está metido nisso a mais de cinco anos, e a única coisa que me enviou até agora , são estórias infantis de peixes, pássaros, índios e extra-terrestres ah ah ah ...

-É só o começo da história, te falei.

-Encontrou a porra do Livro do Tombo dessa sua ..."cidadezinha" ?

-Pois saiba que encontrei, sabia? Não leu o rascunho de Guaratuba Bay- Eric e o Livro do Tombo?

-Me conte melhor, essa odisséia! ah ah ah

-Um dia...talvez!

-Eric, nem imagina o que caiu em minhas mãos...

-Fale, colecionador de artes...."roubadas" !

-E de documentos também, esqueceu?

-É verdade...mas algum dia vai ver o sol nascer quadrado amigo!

-Nem por sonho, minhas fontes são super seguras...ah ah ah

-Tá...o que conseguiu agora?

-Algo que talvez te interesse, um documento original do Conde D´Eu, a respeito da Guerra do Paraguay, se encaixaria no seu conto histórico?

-Tá brincando né Junqueira?

-Sério, um, digamos assim, colaborador em meus negócios andou por Lisboa e o conseguiu a título de empréstimo de uma Biblioteca, acredita?

-Claro que não, documentos originais não são disponíveis à empréstimos...

-Pois é, mas o funcionário de lá não sabia disso ainda...ah ah ah

-E seu colaborador surrupiou o documento né? Já te avisei , vai acabar na cadeia amigo!

-Nem venha com sermões, quer ou não?

-Claro que quero, mas não o original, uma cópia xerostática dele já me serviria, e você até poderia praticar uma boa e honesta ação depois devolvendo o original à essa tal Biblioteca!

-Me custou uma nota preta Eric!!!!

-Um xerox é bem barato Junqueira, faça isso e me envie pelo correio, pagarei a postagem, prometo.

-Mas nem a pau!

-Quer me explorar é?

-Sabe que desta vez não?

-E lá acredito ainda em Papai Noel, e partindo de você?

-Eric...estou organizando uma festa de reveillon aqui na minha mansão na Ilha de Paquetá, por quê não vem buscar a cópia pessoalmente? Economizaríamos a postagem...ah ah ah

-Tá louco? Se deu conta que hoje já é noite de 30 de dezembro?

-Ahhh....entendi, vendeu o "bólido" prá fazer uma graninha né , proletário?

-Uma ova que vendi, tá aqui na garagem...

-E...que mal lhe pergunte...não tem grana prá gasolina, né?

-Já sabe prá onde te mandei agora...

-Desconfio que tá começando a ficar velho, amigo e mal humorado!

-Euuuu? Velho? E você..."dinossauro"?

-Eric só convidei a fina flor da nata da alta sociedade carioca e nordestina desta vez...vai ser um festão amigo!

-Não me tente Junqueira!

-Se conseguir chegar na Marina da Glória até as três da tarde, de amanhã, meu Iate, ainda estará lá...e posso te dar uma carona prá Ilha!

-Está duvidando da minha habilidade ao volante é?

-Ainda tem carteira de habilitação? ah ah ah

-Estou só com dezoito pontos, nessa segunda edição pós reciclagem à que o Detran me obrigou a fazer...

-Que foi, andou atropelando algum cãozinho na rua?

-Por excesso de velocidade, outra vez Junqueira,  bem que tento me conter, mas essa porra do motor do meu Porsche, me provoca demais...

-É aquele Carrera preto e conversível que conheci em Búzios?

-Ele mesmo, sou do tipo fiel, sabia?

-Fiel? Com o quê?

-Nem vem com sermão, agora você, combinado?

-Vem ou não vem à minha festa de reveillon?

-Tou indo, saio de Curitiba às cinco da manhã...

-Então...té mais , . . .colega!

clic....

Bem que Eric andava com saudades de pegar uma estrada e afundar o pé no acelerador mesmo.
Parte II
Gostava de acordar cedo para iniciar uma viagem de trajeto longo e às cinco horas da manhã, saía da garagem do flat em direção à BR-116.
Quatro horas depois tomava a  Av. Ayrton Senna , rodovia dos Trabalhadores em São Paulo e logo, já disputava espaços com os inúmeros caminhões na Via Dutra.
Entrou na cidade pela Linha Vermelha , cedo demais, apenas  14:00 horas da tarde.
Decidiu matar um rápido tempo, antes de ir à Marina da Glória, tomando rumo oposto, e, ao cruzamento da Prudência X  Imprudência em Ipanema...rua Prudente de Moraes esquina com rua Vinicius de Moraes...
Um suco de açaí e um bolinho de bacalhau no famoso bar da Garota de Ipanema e meia hora depois, rumo à Av. Infante Dom Henrique, onde se situa a Marina, entre a Glória e a enseada do Flamengo.
Estacionou o Porsche no lugar indicado pela Portaria, retirou do banco a bolsa preta, e a jogou a tira-colo...
Caminhou sem pressa pelo trapiche onde sabia ficar o berço do Playboy III, o “barquinho”  de apenas 100 pés do seu amigo Junqueira, o colecionador de obras de arte...
Junqueira ao vê-lo cinco minutos antes das três da tarde, o horário determinado por ele para a partida à Ilha de Paquetá , sorriu.
-Sempre em cima da hora heim, seu folgado?
-Oiii Junqueira, caramba...quanta gente no barco!!!
-Apenas parte dos convidados, os outros já estão na Ilha...eiiii...o que é isso nessa bolsa de estudantes?
-Minha muda de roupas, prá tua festa, uééé!!! Eric falou atirando a bolsa para  dentro do barco.
-Tá louco cara? É uma festa  a rigor, cadê teu smoking?
-Smoking? -  Louco tá você Junqueira, não uso isso a mais de 20 anos, trouxe a bermuda e a camisa ,floridas que comprei no Hawaiii, é uma festa tropical não é?
-Bem, mais ou menos...vai ser ao lado da piscina no jardim com decoração tropical, mas é uma festa à RIGOR ...Eric...os homens com smokings ou summers e as mulheres com seus vestidos longos!
-Putz, por quê não me avisou antes?
-Alugaria um smoking é?
-Claro que não, eu é que não viria à tua “festança” de ricos, não mesmo.
-Entre nessa porra de barco logo, que temos de partir, depois pensaremos numa saída para essa sua ...infantilidade, debochada!
-Junqueira, não quero te constranger, posso me passar por um dos seus garçons servindo coquetéis coloridos...dentro de taças ou de côcos com canudinhos...ah ah ah

Junqueira só olhou pro Eric, de maneira meio brava, pois havia falado muito dele para seus convidados e ali estava o folgadão trazendo...bermuda...florida,  prá usar numa festa de  réveillon , e no . . . Rio de janeiro!
Nesse momento um Airbus A-300 passava raspando a antena do barco,  com um barulho infernal, tomando uma das pistas do Aeroporto Santos Dumont...
O impávido capitão, nem tomou conhecimento do rasante do jato sobre o mastro  do barco, parecendo já acostumado, colocando a proa no rumo, 300° NO magnético, numa linha reta até a derrota prevista,   lat 22°76´ S e long. 43°11´ O, as coordenadas da Ilha situada a 12 milhas da Marina da Glória, num trajeto de apenas 35 minutos até o ancoradouro da mansão do Junqueira.
Durante esse tempo, Eric e seu amigo tiveram tempo de resolverem o negócio deles numa das cabines do barco, longe das vistas dos passageiros.
-É de serventia ao seu livro Eric?
Eric examinou o documento e a cópia do original...
-Sem dúvidas, minha cidade participou dessa guerra com alguns combatentes e tivemos um fato  ocorrido  relevante...a despeito , do que penso sobre a necessidade idiota desta guerra contra o Paraguay, ordenada pelo Conde D´Eu,  que para mim , foi um boneco nas mãos dos ingleses, esses sim , tinham interesse em evitar a expansão  desse pequeno País.
-Não entendi Eric...
-Seguinte Junqueira, na época a Inglaterra se usava do Brasil, Argentina e Uruguay,  como exploradores de suas riquezas e o Paraguay, ameaçava esta hegemonia, por estar mais alinhado com a Espanha.
O Paraguay, expremido entre Brasil, Argentina, Chile e Bolívia, não possuía costa marítima, e dependia da navegação no Rio Paraguay, Rio Paraná e finalmente, após a confluência dos Rios Paraná e Uruguay, formando o Mar del  Plata, já em mar aberto e acesso aos oceanos Atlântico e Pacífico, este mais ao Sul e nas junções desses,  após o contorno do Cabo Horn, no Estreito de Drake...
-E...?
Nessa época, o Paraguay saía de uma guerra fraticida com a Bolívia, sem ganhadores ou perdedores, porém com uma experiência apreciável.
Difícil imaginar hoje, que sem ter fronteiras marítimas, o Paraguay possuía uma poderosa frota naval de guerra né?
Mas possuía,  bem como tinha a pretensão de se assegurar dessa rota fluvial necessária ao seu desenvolvimento, nem que para isso precisasse tomar territórios ao longo desses rios, ao Brasil ,  Argentina e Uruguay.
Bonzinhos, os ingleses conduziram esses três países a formarem uma tríplice aliança e declararem guerra ao iminente inimigo, claro, que para isso precisariam contar com equipamentos ingleses e financiamento à juros escorchantes...
-E onde entra Guaratuba nisso?
A marinha brasileira contratou, melhor, requisitou os serviços de um navio a vapor chamado São Paulo, pertencente à  um comerciante paulista  chamado Jacinto Ribeiro do Amaral, marido da famosa pianista e compositora brasileira, Chica Gonzaga...
-A própria Chiquinha Gonzaga?
-Ela mesma Junqueira...
-E o que aconteceu?
-Numa tarde de novembro, mais precisamente ás 15:00 h do dia 26 de Novembro de 1866, este navio retornava  do front de guerra trazendo combatentes em fuga ...da carnificina que acontecia nas ferozes batalhas navais, e , por inabilidade do comandante  do Vapor São Paulo, a despeito da forte neblina que acontecia, veio a encalhar na ponta das Caieiras em Guaratuba, e acredite se quiser, a menos de 50 metros da costa.
A população guaratubana  acorreu aos desesperados apitos do vapor e retirou  do casco , os 600 combatentes e os tripulantes, entre eles a própria Chiquinha Gonzaga, sem uma perda humana sequer, à exceção de um combatente gravemente ferido no front que veio à óbito já em terra.
-Puxa...que sorte heim?
-Pois é, mas não vai gostar de saber de outros números dessa guerra  Junqueira...
-Quais Eric?
-Morreram nesta guerra, nada menos que 3.100 uruguaios, 18.000 argentinos, 50.000 brasileiros e acredite, 15% da população paraguaia, “apenas” 300.000 pessoas entre militares e civis!
-Caramba? Nunca aprendi isso na escola, sabia?
-Em nossas escolas só nos ensinam sobre o heroísmo na  vitoriosa Batalha do Riachuelo, garanto que isso você, você aprendeu, né?
-Que vá, mas até onde te interessa esse documento?
-Apesar  do meu livro ser um romance histórico, gosto de guardar documentos que comprovam a veracidade dos fatos, Junqueira!
-E onde o seu , outro livro , o Planeta DC46, que vi nuns rascunhos de  ensaios que me enviou, se encaixa nisso?
-É o mesmo livro Junqueira, o Guaratuba Bay, é parte do Planeta DC46...
-Se deu conta que já passamos por baixo da ponte Rio-Niterói? Junqueira desconversou
-Sim...faz fiz a travessia por ela várias vezes...
-Então vamos ao que me interessa agora...
-Claro, te conheço bem seu explorador...quanto?
-Apenas dez mil, e só porquê você é meu amigo , tive um monte de custos , e...
-Pare Junqueira, aceita cheque?
-Claro...
Pouco depois ancoravam no trapiche da mansão na Ilha...
= continua na parte III =

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